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Graduada em jornalismo e escritora de romances e histórias infantis, foi no lar que descobri o maior sentido da vida. Alguém que encontra amor e alegria nos desafios e nos prazeres cotidianos do matrimônio e da maternidade. Enfim, uma mulher loucamente apaixonada pelo marido e pelos filhos, que se torna plena, descobre-se e se realiza, cada dia e sempre mais, no seio da família.

domingo, 13 de maio de 2018

Dia das Mães: o batom gasto e a maternidade


"Te amo mamãe", foi a mensagem que encontrei no meu banheiro, logo que acordei. Sim, ela foi feita de batom. Sim, perdi o batom. Mas quem liga? Eu não! Recebi muito mais, em troca.

O batom a gente pode comprar, repor, substituir (ganhei outro, no mesmo dia). Mas não um gesto de amor e carinho tão sinceros. Não uma lembrança tão doce e espontânea, que jamais esquecerei. Diante disso, o batom em si já não tem a menor importância, apenas o que restou dele, no espelho.

E não é assim, a maternidade? O que são os sacrifícios, perdas, ofertas... quando estamos abrindo mão por algo muito maior, melhor e de valor incomparável?!

Quando sabemos focar o essencial, dar o verdadeiro sentido ao desafio e olhar além da dor, tudo vale a pena. Pois encontramos o amor, com tudo o que ele é, gera, traz... Há algo que valha e importe mais do que isso? Não.


No final, tudo compensa de tal forma, que conseguimos ressignificar e ser gratas pelos momentos difíceis, também. Porque, assim como o batom precisou ser gasto para deixar uma linda marca; o amor é provado e fortalecido através das dificuldades. E tudo isso só enobrece e engrandece a nossa missão (de mãe), todos os dias. 

Raquel Suppi

terça-feira, 8 de maio de 2018

Pela batida do seu coração


Como mãe, conheci o medo há 10 anos, no momento que soube que estava grávida do André. Jamais havia vivido a experiência de sentir tanta coisa adversa, ao mesmo tempo. Eu desejava ardentemente ler “positivo” no resultado do exame, e foi o que aconteceu. Mas não contava com o turbilhão de sentimentos, que invadiu o meu peito e me deixou sem ar.

Ninguém sabia da minha suspeita (de gravidez). Decidi, naquele dia 8 de maio de 2008, ir sozinha ao hospital, confirmar a minha desconfiança, e fazer uma surpresa para o Felipe – que estava chegando de viagem. No entanto, eu também fui surpreendida. Não esperava lidar com tantas emoções distintas: alegria, amor, insegurança, euforia, cautela, surpresa, medo... Uma mistura tão oscilante, que confundiu e inibiu a minha comemoração. Claro que eu festejei, mas de forma bastante comedida.

Essa reação não passou de uma autodefesa automática. Era como se eu não pudesse me permitir vibrar tanto, mesmo querendo, e muito menos me “apegar”. Eu me deixei dominar por um medo, desmedido, de perder e sofrer tudo, outra vez. Um pavor que eu desconhecia, até então. Eu conhecia, sim, a dor de perder um filho no ventre, algo que havia acontecido poucos meses antes. E foi a lembrança desse momento que me apavorou. “E se acontecer de novo?!”, eu pensava, inevitavelmente – algo insuportável, só de imaginar.

Sentir tudo isso me entristecia profundamente. Pois, embora eu estivesse imensamente feliz com a confirmação da gestação, o temor não me deixava curtir o momento, plenamente. Foi tão intenso, especial e cheio de emoção quanto a descoberta da primeira gravidez, mas vivido de forma bastante diferente, em muitos aspectos.

O meu primeiro “positivo” veio após 3 ou 4 meses de tentativas. Um tempo de espera sofrido, que pareceu uma eternidade, para quem achava que ia engravidar logo. Cheguei a pensar que era estéril. Como nunca havia tomado anticoncepcional e, principalmente, como usuária do Método de Ovulação Billings (um método científico e natural, que ajuda o casal a conhecer e reconhecer o ciclo da mulher), desde o início do casamento, eu realmente achava que ficaria grávida, sem dificuldade. Eu sabia quando estava fértil e perto de ovular, sabia das chances que tinha de engravidar. Por isso, cada vez que a menstruação descia ou que um exame de gravidez dava negativo, mais sem esperança eu ficava. Até que, na primeira semana do Advento, em dezembro de 2007, senti algo diferente, dentro de mim. Não se tratava dos sintomas da gestação, pois ainda era cedo e nem sequer estava com a regra atrasada. Mesmo sem razão aparente para suspeitar, algo me dava certeza de estar grávida.

Após alguns dias de muita ansiedade e silêncio (não comentei nem com o Felipe), resolvi ir ao hospital, fazer o exame. Meu marido não fazia ideia! Fui pela manhã e retornei à tarde, para pegar o resultado. Eu estava nervosa, rezava o tempo todo para ter forças e aceitar qualquer resultado. No caminho, ia fazendo um trato comigo mesma, de não comentar com ninguém, caso desse positivo, antes de dar a grande notícia para o papai. E já tentava planejar como contaria para ele.

Lembro-me, com clareza, do semblante da moça que me entregou o resultado. Enquanto imprimia o exame, ela me perguntou se eu queria que desse positivo ou negativo. Respondi com a voz trêmula, engolindo o choro: “positivo”. Ela deu uma espiada, antes de me passar o papel, e não consegui decifrar, pela sua reação, qual seria o resultado. Demorei um tempo para olhar a folha e encarar a verdade. Fui caminhando para fora do hospital, com as lágrimas escorrendo, ainda sem saber de nada. Finalmente, sem pensar, olhei! E lá estava, o que eu tanto havia desejado: “POSITIVO”!

Nossa! Quanta alegria e emoção! As lágrimas, que antes escorriam, agora jorravam. Eu ria e chorava. Chorava e rezava. Agradecia e chorava. E já nem me lembrava daquele acordo, de não contar para ninguém, antes do pai. Como não consegui falar com ele, tentei ligar para os meus pais, também sem sucesso. Acabei sendo “forçada” a esperar algumas horas, para contar para o Felipe.

Nós tínhamos uma palestra para ir, naquela noite. Íamos juntos, mas houve um imprevisto e nos encontramos somente lá. Como estávamos sempre cercados de pessoas, precisei me conter mais um pouco. Na verdade, o plano era contar só em casa, e fazer uma surpresa, quando fôssemos jantar.  Mas, não consegui me segurar e contei tudo, logo que tivemos alguma privacidade. Havíamos acabado de deixar o local do evento e, enquanto caminhávamos pela calçada, parei diante dele, emocionada, e disse: “Agora, nós somos três!”, mostrando-lhe o exame, como prova. Foi inesquecível e indescritível! Ele não sabia o que fazer, para onde ir, como comemorar. Uma cena que guardo com muito carinho. Por fim, decidimos ir para casa e ligar para os nossos pais e familiares, no Brasil (morávamos em Montevidéu, na época), para dar a grande notícia – que foi acolhida e recebida com muita festa e vibração.

Na primeira ultrassonografia, com 8 semanas de gestação, vimos o seu corpinho ganhando forma, e o coraçãozinho batendo forte. Nem podíamos imaginar que, na semana seguinte, nosso amado bebê partiria. Só descobrimos quase 20 dias depois, quando tive um pequeno sangramento. Perder um filho era algo tão surreal para mim que, quando o vi novamente na tela do ultrassom, mais formadinho e desenvolvido que antes, abri um grande sorriso, achando que estava tudo bem. Foi o Felipe que notou que havia algo de errado. “Posso escutar o coração do meu filho?”, ele perguntou ao médico, que respondeu, delicadamente: “Infelizmente, não há mais batimento cardíaco”. Não vou me deter no que sentimos, porque é indizível. Fiz a curetagem dias depois. O pior momento da minha vida, até agora.

Três meses depois, diante da descoberta de uma nova gravidez, naquele mesmo hospital, tudo isso passava como um filme acelerado, na minha cabeça. E eu temia, desesperadamente, reviver algo parecido, outra vez. Já nem sabia se devia contar para todo mundo, como havia feito antes. Então, meu marido me ligou, dizendo que havia chegado de viagem.

Quando nos encontramos, dei-lhe um forte abraço e contei que estava grávida, sem tom algum de surpresa. Saiu de forma espontânea. Ele até estranhou a minha aparente falta de euforia e deve ter compreendido o motivo, mas se recusou em compartilhar da mesma reação. Vibrou e se alegrou, como se fosse a primeira vez. E era! Porque cada filho é único. Aquela experiência era nova e única. Tínhamos que vivê-la e aproveitá-la! E foi ali, nos braços do meu esposo, que eu fui aprendendo a lidar com o medo, e que eu me permiti celebrar a vida do nosso filho, como o meu coração ansiava, desde o início. Não esperamos, nem guardamos segredo. Resolvemos anunciar a gravidez imediatamente, sentindo, celebrando e demonstrando toda a alegria que tínhamos direito e éramos capazes.

Se eu dissesse que vivi uma gravidez tranquila, estaria mentindo. Ela teve emoção, do início ao fim. O medo insistiu em ficar, mas não conseguiu sufocar a alegria, o amor e a esperança. Embora, devo confessar, quase tenha conseguido me dominar, um dia. Quando um familiar sangramento me assustou, e tudo parecia estar se repetindo, exatamente igual. Mas, no final, soou um lindo som nos nossos ouvidos: a batida forte de um coração.

Por essa batida, suportei todo o repouso e desconforto da gestação. Por causa dessa batida, temo, rezo e dou o meu melhor, a cada instante. É essa batida que me faz acolher e aceitar todos os sacrifícios e exigências da maternidade. É ela que me dá a honra de viver os melhores momentos da minha vida, e de escutar uma das palavras mais belas do mundo: mamãe! Enfim, por essa batida, vale a pena sentir e enfrentar todo o medo.


Raquel Suppi

O que mais gosto na maternidade?

No meio daquela bagunça gostosa com os filhos, um deles me perguntou por que eu gostava tanto de ser mãe. - Porque eu tenho vocês, ué...

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