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Graduada em jornalismo e escritora de romances e histórias infantis, foi no lar que descobri o maior sentido da vida. Alguém que encontra amor e alegria nos desafios e nos prazeres cotidianos do matrimônio e da maternidade. Enfim, uma mulher loucamente apaixonada pelo marido e pelos filhos, que se torna plena, descobre-se e se realiza, cada dia e sempre mais, no seio da família.

sábado, 17 de março de 2018

Ser mãe é (também): passar vergonha!

*Texto adaptado para o Riquezas do Lar, originalmente publicado no site Negócios de Família, em julho/2014*

É bastante corriqueiro, quase como uma regra, os filhos colocarem os pais em situações embaraçosas. Parece até que todos fazem um curso universal, do tipo: “como fazer os pais passarem vergonha”!

Quem nunca pareceu ter mentido? Dizemos: “ela não gosta de comer isso”, mas a filha não só come tudo, como pede mais. Quem nunca se constrangeu diante das respostas extremamente sinceras? Perguntam: “Gostou do presente?”. E o filho responde: “Não! Eu queria brinquedo, e não roupa!”. Quem nunca quis evaporar, diante de algum comentário totalmente sem noção dos filhos?

Não há como escapar! Viver momentos constrangedores, por causa das nossas crianças, é marca registrada de toda mãe – e pai também! É uma espécie de tradição da maternidade/paternidade, passada de geração em geração. Um dia, fizemos isso com os nossos pais, que fizeram com os nossos avós, que fizeram com os nossos bisavós e por aí vai!

Se todos passam ou já passaram por isso, bem que poderíamos encarar de uma maneira mais leve e descontraída. Claro que, na hora do aperreio, é complicado ver por essa ótica, levar numa boa e muito menos curtir. Se pudéssemos, enfiaríamos a cabeça em um buraco, como avestruz! Mas, depois, é quase impossível não virar piada e motivo de gargalhada. Histórias que serão contadas por anos, provavelmente, para as gerações seguintes!

Aqui em casa, temos um caderno cheio de casos assim. Procuramos anotar tudo. Vez ou outra, a gente lê e a risada é geral, os filhos adoram! Além disso, recontar um caso ou história, mesmo que em meio à descontração, pode ser uma boa oportunidade para educar, explicar e reforçar um ensinamento.

Um dos “clássicos” da família, com vários “capítulos” posteriores, envolveu o André, nosso filho mais velho. Na época, com três anos, ele começava a aprender (e a levar a sério) algumas “normas” das boas maneiras. Entre elas, a de não soltar “pum” perto de alguém. Ensinamos que sempre deveríamos tentar nos afastar das pessoas ou ir ao banheiro, em sinal de respeito.

Tudo começou, por conta de um episódio hilário, ocorrido numa noite de sexta-feira, em casa. Nós três (meu marido, André e eu) estávamos na sala, assistindo algum programa infantil, quando um mau cheiro invadiu o ambiente. Felipe e eu nos encaramos, cada um achando que o outro era o responsável por aquele fedor. Após negarmos a culpa, voltamos o olhar para o André, incrédulos de que ele seria capaz de “produzir” tal odor. Para a nossa surpresa, no entanto, nosso lindo menininho se acusou, entre risinhos gaiatos. Depois do “choque” e da crise de riso que tivemos, fizemos a devida correção.

Ficou claro que o nosso garotinho havia entendido a lição, poucos dias depois. Nós dois estávamos entretidos, fazendo uma atividade de arte, quando ele se levantou e correu em direção ao corredor, retornando em seguida. Voltou a fazer a mesma coisa, outras duas vezes. Curiosa e sem entender, perguntei o que estava fazendo, se estava tudo bem. “Eu só fui ‘peidá’ de longe, mamãe!”, respondeu, com a naturalidade e a inocência de criança, e já detido na nossa tarefa. Gargalhei por dentro e externei os devidos elogios, sentindo a tranquilidade que uma missão cumprida nos traz. Eu só não sabia que ela não estava, de fato, finalizada. Faltou ensinar um pequeno detalhe, que acabou nos rendendo um grande constrangimento, no final de semana seguinte.  

Estávamos em um restaurante razoavelmente cheio, e o André brincava no “parquinho” do local. Nossa mesa ficava próxima, de modo que dava para ficar de olho nele, enquanto jantávamos. Por isso, vimos exatamente quando ele saiu apressado, e correu para a direção oposta à nossa. Pensando que estivesse perdido, levantamo-nos rapidamente, para indicar onde estávamos. Foi quando ele parou, perto de umas mesas vazias, ergueu o polegar e soltou o berro, todo satisfeito: “Mamãe! Papai! Peidei de longe!”. Ops! Era o detalhe que faltava da lição: explicar que ninguém precisava saber. Falha nossa!


Apesar da confusão, a risada foi geral! Quanto a nós, não tivemos como escapar e muito menos disfarçar – fazer aquele ar de “eu não conheço esse menino”. Além dos garçons, Felipe e eu éramos os únicos de pé, olhando para onde o André estava. Ficou óbvio que ele era o nosso filho! Então, foi o jeito entrar na onda e soltar o riso, também – e não os gases!

Raquel Suppi

segunda-feira, 12 de março de 2018

O fogão novo e o dia da mulher

O sorriso pode parecer forçado,
mas é só por fora!
No último oito de março, Clarinha (3) chegou do colégio com a animação e a docilidade costumeiras e ficou ainda mais saltitante quando, ao guardar a lancheira na cozinha, deparou-se com o fogão novo. Ela e os irmãos estavam contando os dias para a sua chegada (que deveria ter ocorrido 24 horas antes), e ficaram decepcionados quando a loja nos informou que só faria a entrega no dia seguinte.

Nossos filhos o aguardavam há uma semana, com uma ansiedade inacreditável e até engraçada, por se tratar de um fogão. Se fosse um brinquedo, ou algo que pudessem manusear livremente, a empolgação seria mais compreensível, mas não era o caso. Por isso, vê-los tão envolvidos, deixava a reação ainda mais “fofa”, para mim. “Isso é ser família”, pensava comigo.

Na verdade, não era difícil de entender o envolvimento dos três. Eles estavam presentes, no momento que concretizamos a compra, e se encantaram quando viram o novo eletrodoméstico. Enquanto o Felipe realizava o pagamento, eu e os filhos fazíamos mil planos, imaginando todas as receitas e comidas gostosas que faríamos – e qual seria a inaugural!

O nosso antigo fogão não estava mais colaborando. A potência do forno já não era a mesma e as chamas das bocas viviam oscilando e falhando. Por conta disso, pouco a pouco, fui deixando de preparar lanchinhos surpresas, e não me arriscava a fazer biscoitinhos e bolos. Naquele momento, então, diante da nova aquisição, fiz várias promessas – para mim e para eles –, e pretendo cumprir cada uma delas. Agora, acho que dá para compreender a euforia da meninada!

Café da manhã, com mimos!
Durante a entrega, na manhã daquele dia, o Pedrinho (5), que vinha se recuperando de uma virose, era o único dos três que estava em casa (e não no colégio). Quando o interfone tocou, ele já ficou alerta e foi logo perguntando: “Será que é o fogão?”. E, claro, fez a festa ao saber que sim! Queria ajudar em tudo: carregar, tirar da caixa, retirar os plásticos, ajeitar todas as bocas, colocar no lugar certo na cozinha... Entre uma coisa e outra, ainda soltava um “uau!”, achando tudo o máximo. E não deixava de pensar nos irmãos, imaginando a reação deles e dizendo que queria contar para os dois, assim que chegassem da escola. Acabamos combinando que deixaríamos cada um “descobrir a surpresa” sozinho. Mas, nem deu tempo do André (9) perceber por si só, pois a Clarinha entrou na cozinha primeiro e, no instante que notou, não conteve a emoção e anunciou tudo, (entre pulos e gritos de alegria)!

No meio da vibração, a Clarinha lembrou que tinha algo para me dar. Foi até à sua mochila e me trouxe uma flor de papel, lindamente colorida por ela, recortada e colada em um palito de picolé. “Hoje é o seu dia, mamãe...”, ela disse, toda sorridente. E, enquanto eu a admirava, agradecia e tentava dizer que também era o seu dia, ela emendou: “Feliz dia das mães”! Não segurei o riso, que beirou a uma gargalhada. Dei-lhe um abraço gostoso, vários beijos e uma deliciosa fungada no seu pescoço, que ainda cheirava ao perfume colocado de manhã cedo (misturado ao odor de quem, certamente, brincou e se divertiu muito). Com jeitinho e delicadeza, expliquei que aquele dia não era (somente) das mães, mas de todas as mulheres. Portanto, também era o dia dela, da minha doce menina, que abriu um sorriso espantado, mas cheio de encanto, diante da informação.

Particularmente, nunca fui muito ligada à data (oito de março). Mesmo assim, pelas razões certas ou não, mulheres do mundo inteiro são lembradas e, de alguma forma, celebradas, na ocasião. Para mim, no entanto, é um dia comum, tão extraordinário e especial como outro qualquer. Apesar de me sentir assim, preciso admitir que, em meio à normalidade, o dia teve uns bons toques a mais, que o tornaram (festivamente) diferente.
Recadinho do esposo para as mulheres da família,
em nome dos homens da casa.

Um fogão novo está entre eles, é claro, e recebê-lo foi um dos ápices da ocasião – não apenas para mim, garanto! Falando nisso, que dia ele escolheu para chegar, hein?! Bem simbólico e oportuno – ou não! Para mim, ganhar um fogão, justo no dia da mulher, veio bem a calhar. Foi uma coincidência agradavelmente irônica. A parte agradável, dispensa explicações. Simplesmente, amei e estamos todos curtindo, usando e saboreando muito o presente!


Como se sabe, fogão fica na cozinha, serve para fazer comida, lembra refeição em família, dedicação ao lar, dona de casa... E nada disso combina muito com o tipo de mulher que a data promove. O modelo de liberdade, independência, valor e poder feminino, (infelizmente) é fortemente (e quase que unicamente) associado à mulher profissionalmente bem-sucedida. Mas não exatamente aquela que, mesmo trabalhando fora e cheia de responsabilidade, sabe priorizar a família, porque conhece bem o seu papel (aí sim!). Não. Enfatiza e enaltece a mulher que coloca a carreira (e a si mesma) acima de tudo e de todos. Ou seja, a “dona” que, além de não gostar de receber um eletrodoméstico de presente, iria se sentir ofendida (principalmente, num dia como esse). Está aí a ironia – e o motivo de não dar muita atenção ao acontecimento.

Mas, vamos seguir adiante, com o que encheu o dia de encantos, além do habitual. Muito mais que presentes, é sempre a simplicidade dos detalhes, tão próprio do amor, que cativa e toca o coração. E perceber que tenho isso todos os dias é, absolutamente, impagável.

Logo cedinho, por exemplo, após deixar as crianças no colégio e antes de começar a trabalhar, meu marido preparou o nosso café, como de costume. Mas com uma atenção carinhosa e caprichosa a mais. Ele sabe que eu amo flores, por isso, quando avistou algumas, no caminho de volta da escola, simplesmente encostou o carro, para colhê-las. Tão romântico! Em casa, colocou-as num vaso, para enfeitar e embelezar o nosso desjejum. Para o café, geralmente eu como tapioca simples (só com manteiga), mas ele fez questão de acrescentar ovo mexido, que sabe que amo. Também, não posso esquecer a bela mensagem que escreveu no quadro (e conseguiu preparar tudo a tempo, antes de eu descer).

Arte da Clarinha, para a mamãe!
Eu já estava contente e satisfeita, com todos esses gestos, mas não parou por aí. Durante o almoço, com a família reunida à mesa, o Felipe fez uma emocionante homenagem, em forma de oração, e me surpreendeu com uma linda pulseira, de presente. E não se esqueceu da Clarinha, que ganhou (e adorou) acessórios para o cabelo.

Foi o amor que ganhou o meu dia, tão evidente em cada mimo, mensagem, surpresa, palavra, expressão. E o que realmente deixou o meu coração emocionado e feliz, é saber que isso faz parte do meu cotidiano, independente de data.

A data comemorativa da mulher já passou, mas é isso que desejo para cada uma delas, do mundo inteiro: amor diário, em forma de cuidado, respeito, admiração, apoio, amizade, presença. Assim como a alegria de reconhecer, aceitar e exercer o seu verdadeiro dom e a sua nobre e intransferível missão.

Raquel Suppi

segunda-feira, 5 de março de 2018

Aula sem cálculo, lógica e explicação

Se “a vida é uma escola”, como diz o famoso ditado popular; a maternidade/paternidade, sem sombra de dúvida, é uma das mais importantes – e maravilhosas – salas de aula.

Nessa classe, há uma troca constante e abrangente de aprendizado. Nunca se sabe exatamente quem (mais) está aprendendo ou ensinando. Surge sempre assunto novo, as dúvidas são incessantes – e, muitas vezes, desconcertantes –, e as descobertas são, absolutamente, fascinantes!

Cabe o mundo todinho, lá dentro. As matérias são as mais variadas que se possa imaginar.  E acontece tanto improviso, que não dá para fazer – e muito menos seguir – um plano de aula, fielmente. Mas cada tema abordado é importante. Inclusive, eles podem se entrelaçar e, vários deles, serem discutidos, ao mesmo tempo – é bastante comum. Não tem essa de esperar um ser concluído, para começar outro. O mesmo acontece com os problemas – muitos deles, bem mais complexos que os matemáticos –, que aparecem sem ordem, lógica, regra e, geralmente, não tem uma resolução exata.

Tudo é ininterrupto, sem direito a intervalo ou recreio, mas nem por isso falta diversão. Muito pelo contrário. Embora seja uma aula encarada com muita seriedade e disciplina, é também uma das mais espontâneas, surpreendentes e encantadoras. Tem brincadeira, bagunça, sujeira, bronca, bobeira, arte, briga, malcriação, dodói, medicação, comida gostosa, canção, beijo melado, abraço apertado, carinho, lágrimas, soninho, palhaçada, sorriso e muita gargalhada.

Não tem dia de prova, teste ou avaliação. Aliás, tem sim – e muito –, e acontece a qualquer hora e momento! O que não tem é nota e essa história de “repetir” ou “reprovar”. Mas não tem moleza, não. Lição é o que não falta, trabalho também não! E deve ser realizado com a melhor intenção, empenho e dedicação – feito em equipe, vale ainda mais!

E, como tudo que é valioso, também custa um bocado. Nem sempre é fácil. Tem choro, decepção, sentimento de culpa, cansaço, sensação de impotência e fracasso. Mas a parte desafiante é só um pequeno fragmento, diante da grandeza incomensurável do todo. Por isso, além de muito bem recompensadas – de forma positivamente desproporcional –, as dificuldades acabam servindo de combustível e motivação, para (tentar) fazer bem melhor (sempre), da próxima vez.

Pode não haver “recuperação” nessa classe, mas existe o esforço constante e o desejo infinito de se superar e melhorar, a cada dia. Uma busca incansável pela inalcançável perfeição. Mesmo assim, não dá para desistir. Por mais frustrante que seja constatar que é impossível chegar lá, sempre há esperança e vontade de continuar tentando e lutando, para ir mais longe. Não por teimosia ou vaidade, mas por uma decisão firme do coração. Uma escolha tão forte, imensa e poderosa, que é indestrutível, imensurável, incomparável, irrevogável; chamada: amor!

E, nossa! Há tanto amor nessa turma, que fórmula alguma seria capaz de calcular. É tão ilógico e inexplicável que, certamente, daria para preencher o universo inteiro, com todo o seu infinito! E é esse amor que conduz, sustenta e faz tudo acontecer. É desse amor que brota tudo o que é necessário, em/para cada ensinamento: paciência, fé, força, persistência, firmeza, caridade, perdão, leveza, sabedoria, resiliência, alegria, confiança, esperança... Enfim, é algo incrível! Para isso, no entanto, é preciso estar focado nele (no amor). Caso contrário, as coisas podem ficar confusas e desordenadas.

Portanto, como se vê, o amor é completamente imprescindível nessa classe, pois é a base de toda matéria que passa por ela. Quando ele atua de verdade, tudo vai entrando em equilíbrio, por mais que doa. E dói – para valer!

Dói a incerteza. Dói enfrentar a nós mesmos. Dói ver sofrer. Dói, muitas vezes, fazer a coisa certa. Dá vontade de pegar atalhos, pular aquela lição, fazer o caminho mais curto e imediato. Contudo, a via do amor, por mais desafiante que possa parecer, é a estrada mais segura, só é preciso ter coragem para segui-la. Mas, quando optamos por ela, a experiência é sem igual, a mais feliz! E, à medida que caminhamos, os verdadeiros, os melhores, os mais belos e saborosos frutos vão surgindo. Cada um ao seu tempo, basta continuar, pacientemente, o percurso.


Tem como negar a relevância e o tamanho da importância dessa sala de aula, na escola da vida?! Há como não se maravilhar com os seus encantos?! Eu nunca ouvi falar de alguém que tenha se arrependido de ter entrado nela e que, mediante as dificuldades e provações, quisesse voltar atrás ou trocar de turma – o contrário, sim! É que não existe amor, sem renúncias e sacrifícios. E o que seria da vida, sem amar de verdade?

Raquel Suppi

O que mais gosto na maternidade?

No meio daquela bagunça gostosa com os filhos, um deles me perguntou por que eu gostava tanto de ser mãe. - Porque eu tenho vocês, ué...

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