Chima nosso de cada dia! |
Era uma agradável noite de sexta-feira. Havia chovido várias
vezes e, naquele momento, entrava uma brisa refrescante, pela porta dos fundos
de casa. O dia, o clima, a hora, tudo pedia uma boa taça de vinho; mas, não a
minha vontade. Esta, queria uma bela cuia de chimarrão. Então, por volta das 21
horas, meu lindo esposo estava à caminho do único supermercado da redondeza que,
muito provavelmente, teria o que eu tanto desejava.
Meu marido costuma contar essa história, sempre que alguém
pergunta se eu tomo chimarrão. Faz questão de frisar – com certo exagero, é claro
– a parte que ele “precisou” sair para comprar erva mate, como se tivesse ido
obrigado. “Ela já me fez sair de casa, mais de 9 horas da noite, só para
comprar erva!”, diz. Mas não comenta que, naquela mesma noite, tomou chimarrão
comigo (usando a recém-comprada erva). A verdade, é que o Felipe (meu esposo)
ama o fato de ter uma esposa que “mateia” com ele. Por isso, faz questão de
descrever o ocorrido, até mesmo para reforçar que, muito mais que simplesmente tomar,
eu gosto.
Lar, chuva, mate, doce e amor! |
Aqui, vale uma breve apresentação, para quem não nos conhece.
Sou natural de Fortaleza, Ceará, cidade onde moramos, atualmente. Conheci o meu
marido aqui, vindo do Rio Grande do Sul, com a família, anos antes de nos
encontrarmos. Iniciamos o nosso namoro em 2003 e, a partir de então, a cultura
gaúcha também começou a fazer parte da minha vida.
No período da "iniciação". |
Mas não foi logo de cara que comecei a tomar chimarrão, não. Para ser mais exata, demorou quase 8 meses para experimentá-lo, pela primeira vez. E não foi por falta de oportunidade. Todo domingo, meu sogro fazia churrasco e, durante os preparativos, a família – e, muitas vezes, amigos gaúchos – se reunia para a “roda de chimarrão”. E eu estava lá (na roda), mas não exatamente fazendo parte dela. Além de não ter vontade de provar, eu tinha receio de não fazer direito e passar a maior vergonha. Isso porque existem várias regrinhas para se tomar chimarrão, algumas ditas e outras não. Para quem tem o costume de família, o “aprendizado” é muito mais natural e espontâneo do que para alguém que, como eu, nunca tinha experimentado nada parecido. Portanto, fui deixando passar e, como a gauchada respeitava e não insistia, resolvi esperar mais um pouco.
Churrasco, mate e conversa boa! |
Acho que foi o chimarrão mais longo da minha vida. Tenso, com certeza foi. A água estava mais quente e a erva mais amarga do que eu imaginava, o que me fez demorar um pouco mais, para terminar. E o pessoal ao meu redor, só aguardando o meu comentário. Não lembro muito bem o que disse, mas acho que a minha cara falou por mim. Só sei que, no domingo seguinte, voltei a tomar, e a experiência já foi diferente – de um jeito muito melhor. E, assim, comecei a fazer parte da “roda”, de verdade – no início, tomando apenas um, no máximo dois; depois, perdendo as contas.
Mesmo acostumada, foi somente depois de casada, que o
chimarrão realmente se tornou um hábito. Poucas semanas depois de casarmos, fomos
morar em Montevidéu, Uruguai, onde ficamos por 3 anos. Lá, a cultura do mate
amargo é tão forte quanto no Rio Grande do Sul – talvez até mais – e a erva,
muito mais amarga. A cena mais comum do mundo, é encontrar um uruguaio com uma
cuia na mão e uma garrafa térmica embaixo do braço. Ou seja, tudo em nossa
volta deixava a “prática” ainda mais familiar, e favorecia o consumo diário do
chimarrão.
Mateando em Montevidéu. |
Retornamos ao Brasil, e o costume permaneceu e se consolidou –
do mate à parceria. Por isso, quando me perguntam se gosto de chimarrão, rapidamente
digo que sim! Se o questionamento muda para “você acha chimarrão gostoso”, aí a
resposta fica um pouco mais elaborada. Dizer que me “acostumei” com o gosto, seria
incompleto e inadequado. Na realidade, eu aprendi a apreciá-lo e saboreá-lo, porque
gostoso mesmo é o que ele proporciona, a atmosfera agradável que gera.
Cartão de 8 meses de namoro. |
Em casa: mateando, conversando, namorando. |
Não é o chimarrão em si que reúne famílias (e amigos),
diariamente. Não é ele que nos faz pausar o que estávamos fazendo a sós, para
sentarmos pertinho de alguém importante para nós, aproveitando ao máximo aquele
tempo precioso. Ele (o mate) é apenas um simples pretexto. Muito além da água quente e
da erva amarga, está o amor, gerando o desejo de estar junto, de conversar,
partilhar, compartilhar com quem se ama. No fim, é o amor que faz a roda
acontecer e o momento ser tão sagrado, especial, gostoso. O chimarrão é uma mera
desculpa, um coadjuvante. E é por isso que eu gosto tanto dele!
Raquel Suppi
Raquel Suppi
Gostei demais do texto, deu até vontade de experimentar tbm. Tenho alguns amigos gaúchos, mas nunca me interessei em tomar, sempre algo só da cultura deles. Mas lendo sobre a sua experiência, consegui entender um pouco mais o sentido. Muito legal a sua experiência! Parabéns plo texto!
ResponderExcluirPaula
Olá, Paula! Que bom que a minha experiência te deu coragem! Espero que vc prove e goste, para desfrutar o que há por trás da roda de chimarrão! Tdo de bom para ti! Abraço!
ResponderExcluirAdorei o texto!
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