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Graduada em jornalismo e escritora de romances e histórias infantis, foi no lar que descobri o maior sentido da vida. Alguém que encontra amor e alegria nos desafios e nos prazeres cotidianos do matrimônio e da maternidade. Enfim, uma mulher loucamente apaixonada pelo marido e pelos filhos, que se torna plena, descobre-se e se realiza, cada dia e sempre mais, no seio da família.

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

"Por amor, até chimarrão fica gostoso"

Chima nosso de cada dia!
- Amore, queria tanto tomar chimarrão, mas não tem erva suficiente... – comentei, com voz melosa, lá da cozinha.

Era uma agradável noite de sexta-feira. Havia chovido várias vezes e, naquele momento, entrava uma brisa refrescante, pela porta dos fundos de casa. O dia, o clima, a hora, tudo pedia uma boa taça de vinho; mas, não a minha vontade. Esta, queria uma bela cuia de chimarrão. Então, por volta das 21 horas, meu lindo esposo estava à caminho do único supermercado da redondeza que, muito provavelmente, teria o que eu tanto desejava.

Meu marido costuma contar essa história, sempre que alguém pergunta se eu tomo chimarrão. Faz questão de frisar – com certo exagero, é claro – a parte que ele “precisou” sair para comprar erva mate, como se tivesse ido obrigado. “Ela já me fez sair de casa, mais de 9 horas da noite, só para comprar erva!”, diz. Mas não comenta que, naquela mesma noite, tomou chimarrão comigo (usando a recém-comprada erva). A verdade, é que o Felipe (meu esposo) ama o fato de ter uma esposa que “mateia” com ele. Por isso, faz questão de descrever o ocorrido, até mesmo para reforçar que, muito mais que simplesmente tomar, eu gosto.

Lar, chuva, mate, doce e amor!
Ultimamente, tem feito uns dias chuvosos, por aqui, deixando os fins de tarde (e noites inteiras) com um clima bem ameno. Tudo isso, tem favorecido a nossa “roda de chimarrão”, dando ao momento um toque mais aconchegante. Em umas dessas recentes ocasiões, Felipe e eu recordamos aquela famosa sexta-feira (narrada no início). Entre risadas, voltamos um pouco mais no tempo, relembrando quando tomei chimarrão, pela primeira vez, e como fui “aprendendo” a apreciá-lo.

Aqui, vale uma breve apresentação, para quem não nos conhece. Sou natural de Fortaleza, Ceará, cidade onde moramos, atualmente. Conheci o meu marido aqui, vindo do Rio Grande do Sul, com a família, anos antes de nos encontrarmos. Iniciamos o nosso namoro em 2003 e, a partir de então, a cultura gaúcha também começou a fazer parte da minha vida.

No período da "iniciação". 



Mas não foi logo de cara que comecei a tomar chimarrão, não. Para ser mais exata, demorou quase 8 meses para experimentá-lo, pela primeira vez. E não foi por falta de oportunidade. Todo domingo, meu sogro fazia churrasco e, durante os preparativos, a família – e, muitas vezes, amigos gaúchos – se reunia para a “roda de chimarrão”. E eu estava lá (na roda), mas não exatamente fazendo parte dela. Além de não ter vontade de provar, eu tinha receio de não fazer direito e passar a maior vergonha. Isso porque existem várias regrinhas para se tomar chimarrão, algumas ditas e outras não. Para quem tem o costume de família, o “aprendizado” é muito mais natural e espontâneo do que para alguém que, como eu, nunca tinha experimentado nada parecido. Portanto, fui deixando passar e, como a gauchada respeitava e não insistia, resolvi esperar mais um pouco.
Roda de chimarrão em família - Esteio-RS

Até que, bem devagar, a curiosidade foi aumentando, e a vontade também. A cada domingo eu pensava: “no próximo eu tomo”. Já era uma mudança de interesse, porque antes, nem isso passava por minha cabeça. Colaborou muito o fato de ter conhecido, nesses churrascos, uma cearense, casada com um gaúcho, que tomava chimarrão. Foi ela que me ajudou a acabar com as “neuras” e a encarar o “desafio”. Então, em um belo domingo, decidi que seria aquele, o dia da minha estreia. Mentalizei as orientações – “não mexer na bomba”, “não chamar a bomba de canudo”, “beber até roncar”... – e comecei a tomar.

Churrasco, mate e conversa boa!


Acho que foi o chimarrão mais longo da minha vida. Tenso, com certeza foi. A água estava mais quente e a erva mais amarga do que eu imaginava, o que me fez demorar um pouco mais, para terminar. E o pessoal ao meu redor, só aguardando o meu comentário. Não lembro muito bem o que disse, mas acho que a minha cara falou por mim. Só sei que, no domingo seguinte, voltei a tomar, e a experiência já foi diferente – de um jeito muito melhor. E, assim, comecei a fazer parte da “roda”, de verdade – no início, tomando apenas um, no máximo dois; depois, perdendo as contas.

Mesmo acostumada, foi somente depois de casada, que o chimarrão realmente se tornou um hábito. Poucas semanas depois de casarmos, fomos morar em Montevidéu, Uruguai, onde ficamos por 3 anos. Lá, a cultura do mate amargo é tão forte quanto no Rio Grande do Sul – talvez até mais – e a erva, muito mais amarga. A cena mais comum do mundo, é encontrar um uruguaio com uma cuia na mão e uma garrafa térmica embaixo do braço. Ou seja, tudo em nossa volta deixava a “prática” ainda mais familiar, e favorecia o consumo diário do chimarrão.

Mateando em Montevidéu.
Foi aí que peguei o gosto, especialmente quando começou a esfriar, com a chegada do nosso primeiro outono uruguaio. Depois, já não importava a estação (nem a temperatura), o mate já havia entrado na nossa rotina. Até aprendi a prepará-lo! A melhor parte do dia, era quando o Felipe chegava do trabalho e eu o recebia com o chimarrão pronto. Às vezes, especialmente no verão, que demora para escurecer, saíamos para “matear” em algum parque, praça, “rambla” (a beira-mar de lá) ou mesmo na calçada. Era uma delícia! E, se resolvíamos ficar no aconchego da nossa casa, era tão prazeroso quanto. O que deixava o momento especial era a forma que o desfrutávamos, com muita conversa boa, companheirismo e cumplicidade – e o chimarrão estava lá, de testemunha, dando um toque a mais.

Retornamos ao Brasil, e o costume permaneceu e se consolidou – do mate à parceria. Por isso, quando me perguntam se gosto de chimarrão, rapidamente digo que sim! Se o questionamento muda para “você acha chimarrão gostoso”, aí a resposta fica um pouco mais elaborada. Dizer que me “acostumei” com o gosto, seria incompleto e inadequado. Na realidade, eu aprendi a apreciá-lo e saboreá-lo, porque gostoso mesmo é o que ele proporciona, a atmosfera agradável que gera.

Cartão de 8 meses de namoro.
Para concluir, pois já me alonguei demais, lembrei-me de algo que aconteceu, no começo de 2004. Nessa época, Felipe e eu completamos 8 meses de namoro, alguns dias após a minha “iniciação” no chimarrão, e eu improvisei um cartão, fazendo referência a isto. Pedi para um amigo artista desenhar uma cuia e escrever: “Por amor, até chimarrão fica gostoso”. Eu estava querendo deixar a mensagem romântica, honesta e bem-humorada – e consegui, o Felipe achou o máximo! Mas, certamente, eu ainda não tinha noção do quanto aquela frase era verdadeira.

Em casa: mateando, conversando, namorando.

Não é o chimarrão em si que reúne famílias (e amigos), diariamente. Não é ele que nos faz pausar o que estávamos fazendo a sós, para sentarmos pertinho de alguém importante para nós, aproveitando ao máximo aquele tempo precioso. Ele (o mate) é apenas um simples pretexto. Muito além da água quente e da erva amarga, está o amor, gerando o desejo de estar junto, de conversar, partilhar, compartilhar com quem se ama. No fim, é o amor que faz a roda acontecer e o momento ser tão sagrado, especial, gostoso. O chimarrão é uma mera desculpa, um coadjuvante. E é por isso que eu gosto tanto dele!

Raquel Suppi

3 comentários:

  1. Gostei demais do texto, deu até vontade de experimentar tbm. Tenho alguns amigos gaúchos, mas nunca me interessei em tomar, sempre algo só da cultura deles. Mas lendo sobre a sua experiência, consegui entender um pouco mais o sentido. Muito legal a sua experiência! Parabéns plo texto!
    Paula

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  2. Olá, Paula! Que bom que a minha experiência te deu coragem! Espero que vc prove e goste, para desfrutar o que há por trás da roda de chimarrão! Tdo de bom para ti! Abraço!

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