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Graduada em jornalismo e escritora de romances e histórias infantis, foi no lar que descobri o maior sentido da vida. Alguém que encontra amor e alegria nos desafios e nos prazeres cotidianos do matrimônio e da maternidade. Enfim, uma mulher loucamente apaixonada pelo marido e pelos filhos, que se torna plena, descobre-se e se realiza, cada dia e sempre mais, no seio da família.

terça-feira, 26 de junho de 2018

O que mais gosto na maternidade?

No meio daquela bagunça gostosa com os filhos, um deles me perguntou por que eu gostava tanto de ser mãe.

- Porque eu tenho vocês, ué! Tenho vocês para amar, cuidar e alegrar a minha vida. – Respondi, imediatamente.

Todos riram, satisfeitos, mas isso eles já tinham certeza. Na verdade, o que eles realmente queriam saber, e fui entendendo aos poucos, era o que me faz amar tanto ser mãe. Ou seja, o que mais me dá prazer, na maternidade: algo que faço ou que eles fazem, algum momento ou situação...

No começo, eles queriam que eu escolhesse uma única coisa, mas acabaram aceitando e compreendendo que era impossível. Porque, já que a existência deles (que está no topo isolado dos motivos) não conta, abaixo disso há uma infinidade de detalhes que me fazem a mãe mais feliz do mundo!

Então, a partir da pergunta “o que você mais gosta na maternidade?”, desenvolvemos um diálogo deliciosamente divertido, encantador e cheio de descobertas. E foi desse bate-papo descontraído (e, por isso mesmo, tão rico!) que criei a lista abaixo (a propósito, ela não está em ordem de importância), escolhendo alguns, dentre os vários pontos que abordamos.

>>>>> O que mais gosto na maternidade? <<<<<

1. Dos momentos espontâneos. Quando as nossas conversas (como a que tivemos, que resultou neste texto) e brincadeiras se iniciam e vão se construindo naturalmente, sem nenhum planejamento. Situações assim, de pura cumplicidade e descontração, revelam muito de nós, fortalecem os laços de amor, e nos mostram como é bom ser família e o quanto é simples ser feliz.

2. Das brincadeiras e diversões. Brincar com eles é uma delícia, e vê-los se divertindo, individualmente ou juntos (especialmente juntos!), é uma das minhas cenas preferidas. Quantas vezes fico espiando e admirando em silêncio, a forma que cada um brinca! Seja quando estão concentrados, montando lego, quebra-cabeça ou fazendo desenhos e pinturas; ou quando estão agitados, brincando de pega-pega, futebol, esconde-esconde e por aí vai. De um jeito ou de outro, é simplesmente encantador!

3. Quando os filhos devoram as comidas que faço. É maravilhoso quando eles se alimentam bem, de forma saudável e comem toda a comida. É, no entanto, ainda mais incrível, quando eles se alimentam bem, de forma saudável e comem toda a comida preparada por mim! Eu nunca tive muito talento na cozinha, mas o desejo de agradar o marido e os filhos gerou em mim um forte interesse culinário. Ainda tenho muito que aprender, e eles são a minha principal motivação (e diversão) no processo! Por isso, perceber que ficaram satisfeitos e receber elogios de confirmação, é tão prazeroso, gratificante e recompensador.

4. Da amizade. Meu coração se aquece, a cada evidência de amizade, lealdade, cumplicidade e amor: entre os filhos, entre nós (pais) e os filhos e entre os filhos e os seus amigos. É algo tão belo de constatar, que não sei como descrever ou comparar. Sobretudo, quando se trata do laço de união entre os irmãos (meus filhos).

5. Dos sorrisos, risadas e gargalhadas. Como não amar vê-los sorrindo? Como não amar gargalhar com eles? Sem sombra de dúvida, são as minhas melhores, mais sinceras e valiosas risadas

6. Dos elogios, carinhos e “eu te amo”. Escutar, das pessoinhas que mais amamos na vida, “eu amo você, mamãe”, é tão inestimável, que me faz pensar se mereço tanto. Receber seus abraços, beijos e carinhos espontâneos, vale mais que qualquer presente! E o que dizer das suas declarações, agradecimentos e elogios, tão tocantes quanto sinceros, do tipo: “você é muito linda, mamãe!”?! Simplesmente, as palavrinhas mais mágicas que podem existir (além de grandes responsáveis pela minha autoestima)!

7. Desfrutar o tempo de “filho único”. Nada me faz mais feliz do que ter a família reunida, com todos bem juntinhos e pertinho de mim. Mas também amo e considero imprescindível, desfrutar momentos "de filho único", com cada um. Uma ocasião rica e necessária (para os pais e para os filhos), porque cada filho é mesmo único, insubstituível e o melhor presente do mundo, da vida inteira!

8. Dos “momentos de leitura”. Os livros sempre estiveram presentes na vida dos nossos filhos. Sabíamos que precisávamos incentivar a leitura, desde cedo, se quiséssemos que eles realmente gostassem e reconhecessem a importância de ler (bons livros). Em vista disso, criamos o “momento de leitura”, quando paramos para ler uma boa história (o que não impede de lermos em outros horários, também). Confesso que pensava que seria desafiante, implantar esse compromisso diário, mas fui positivamente surpreendida! Claro que nem sempre estão todos dispostos, mas percebo uma vitória e conquista, a cada dia. Como uma sementinha, que está germinando, brotando e crescendo, aos poucos. Por isso, é um momento tão prazeroso para mim. E fico ainda mais feliz e orgulhosa, quando as crianças expressam ou deixam transparecer que também é, para elas.  

9. Das conquistas. Precisa explicar quão valioso é testemunhar os filhos encarando um desafio, superando um medo e conquistando algo que tanto queriam?! São as vitórias mais especiais da nossa vida!

10. De cada nova etapa. Cada fase, aprendizado, descoberta e experiência dos filhos é uma novidade única, não apenas para eles, como também para os pais. Eu me atrevo a dizer que valorizamos e nos importamos muito mais do que eles mesmos, porque a vida dos filhos é tudo para nós. Vivemos e revivemos tudo outra vez, olhando e acompanhando de um foco totalmente novo, muito mais interessante e valioso. E sempre com um frio de pavor na barriga, por conta do tempo, que corre rápido demais. 

11. Da felicidade dos filhos. Vê-los felizes é o suficiente para nos fazer feliz. É difícil encontrar algo que emocione e realize mais o coração de uma mãe, do que a felicidade dos filhos. Nem precisa justificar.

12. Dos flagras. Aquelas cenas (engraçadas, lindas, emocionantes etc.) que presenciamos, por acaso, e que são, absolutamente, impagáveis! Esses dias, por exemplo, peguei o Pedrinho (6) limpando o rosto da Clara (4), cheio de cuidado e carinho, da seguinte forma: lambendo o polegar dele para, em seguida, esfregar na bochecha dela. Outra vez, encontrei o André (9) lendo para os irmãos, que estavam atentíssimos para a história, no sofá. Tem, também, os momentos de pura parceria e companheirismo, quando os irmãos se defendem ou repartem entre si algo que apenas um ganhou (brinquedo, biscoito, chocolate...). Enfim, amo demais flagrar tudo isso!

13. Dos papos cabeça. Já comentei que adoro as nossas conversas descontraídas, que surgem espontaneamente. Mas também aprecio e valorizo demais, os diálogos mais sérios: de orientação, correção, esclarecimento... O assunto em questão pode até não ser fácil de abordar, mas é sempre uma boa oportunidade para transmitir os valores que prezamos (de outra forma, o mundo fará isso) e, sem dúvida, de aprendermos juntos.

14. De ver os filhos crescendo na fé. Não há nada que me importe ou me preocupe mais, como mãe, do que educar os filhos nos verdadeiros valores cristãos, ensinando-os a amar e seguir a Deus, na fé Católica. Esses princípios são a base de tudo! Por isso, constatar (através das orações cotidianas, atitudes, escolhas, entendimentos, conversas e acontecimentos do dia a dia) que eles estão trilhando esse caminho, comove e traz um conforto indizível e incomparável, ao meu coração.

15. Do quanto os filhos me fazem uma pessoa melhor. Ser mãe, definitivamente, foi um divisor de águas na minha vida. Nada me motiva mais a (tentar) ser uma pessoa melhor, em todos os aspectos e momentos, como a maternidade. Sei que estou bem aquém de quem deveria e gostaria de ser, mas sigo focada nesse objetivo, motivada a perseverar. E a razão disso são os filhos, que me tiram do comodismo e egoísmo, e me fazem mais doada, esforçada, criativa, ágil, corajosa... tudo por eles e para eles. Mas como não reconhecer que, nesse processo, eu mesma só tenho a ganhar?! Com toda certeza, ser mãe é o meu maior benefício.

A lista continua e acho que não tem fim. Afinal, a maternidade é uma eterna e encantadora descoberta de amor!  

Raquel Suppi

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Dia dos Namorados (com filhos): dicas para papais apaixonados!


Huummm... O dia dos namorados está batendo à porta e já tem cheirinho de muito romance no ar! Tempo convidativo para desfrutar a companhia do esposo (ou da esposa), com mais atenção e carinho. Sabemos que os momentos “a dois” não devem se limitar às datas especiais, somente, mas elas são sempre ocasiões propícias para reavivar ainda mais o amor, servindo como lembrete da importância de apreciar, valorizar e priorizar a presença do nosso cônjuge.

Como é agradável, justo e necessário poder namorar, sem pressa e interrupção. Além de ser uma delícia, é essencial para a saúde do relacionamento. Mesmo assim, a correria do cotidiano, por vezes, acaba nos distraindo de tal maneira, que corremos o risco de nos acomodar (e de nos acostumar com esse comodismo). No entanto, não devemos usar isso como desculpa. Afinal, nenhum empecilho é capaz de roubar a atenção e nos impedir de zelar por algo que é tão caro para nós. As datas comemorativas são chances oportunas para reacender esse compromisso, e o desejo de estarmos juntos. Então, vamos aproveitar e namorar!

Que tal conseguir (com certa antecedência, de preferência) alguém de confiança (pais/sogros, irmãos/cunhados, padrinhos, amigos, babá) para tomar conta das crianças, por algumas horinhas? Complicado? Está difícil arranjar um “vale night” para o casal? Sem problema! Os filhos jamais serão obstáculos para pais apaixonados! É tudo uma questão de adaptação, jogo de cintura e, claro, de (boa) vontade também!

Sair somente os dois é maravilhoso e, certamente, todo casal deseja e sente falta disso. No entanto, dependendo da época ou da realidade familiar, momentos assim podem ser desafiantes ou – temporariamente – inviáveis. A chegada de um bebê (uma fase linda, por sinal!), uma enfermidade ou dificuldade financeira, por exemplo, podem impossibilitar, ainda que momentaneamente, programas como: jantar fora, ir ao cinema, viajar e por aí vai. Mas, quem foi que disse que só dá para curtir um clima romântico se for assim?! A condição é o que menos importa, quando a intenção brota do coração (até rimou!). Não há limites para o amor, portanto, nada de desanimar, pois é sempre possível aproveitar (rimou de novo!).

Para começar, é fundamental se empenhar para fomentar o amor e a cumplicidade, na rotina diária. Ou seja, aproveitar cada oportunidade para expressar, através de gestos e palavras; carinho, atenção, cuidado e muito amor, um pelo outro. Assim, fica bem mais fácil desfrutar, da melhor forma possível, o tempo (e as condições) que temos juntos.
 
Quem está ansiando trocar chamegos e beijinhos amorosos e cheios de romance com o maridão (ou com a esposa), mas não conseguiu ninguém para ficar com os filhos, não deixe de conferir as dicas abaixo!


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Jantar romântico em casa, a dois

Um belo e delicioso jantar a dois é tudo de bom! Mesmo que seja em casa. Mas, como? Primeiro: colocar as crianças na cama (se o dia tiver sido agitado e divertido, pode até ser que elas durmam mais cedo) ou distraí-las com alguma atividade (filme, joguinhos, livros etc.), em outro cômodo da casa. Nada de se estressar com a criançada, caso não queira colaborar. Com um pouco de paciência, acaba dando certo, nem que leve um pouco mais de tempo. Melhor demorar um pouco mais do que ir jantar de mau humor ou cabeça cheia!

A janta pode ser feita a dois (aliás, é bom que os dois colaborem juntos em tudo; antes, durante e depois), com cumplicidade e carinho. Ou, pode ser uma surpresa! O que mais importa é preparar tudo com amor! Ajeitar a mesa de forma bonita, com uns e outros detalhes especiais (toalha da mesa, flores, vela...  o que a criatividade permitir).

A entrada (e o jantar também) pode ser na sala, varanda, sacada ou jardim da casa (se houver). Músicas românticas, que o casal aprecia, também é uma boa pedida! Pode até pintar clima para dançar! O que vale mesmo é desfrutar, sem pressa! Conversar coisas amenas, sorrir, fazer planos, relembrar bons momentos, fazer declarações, abraçar e beijar muito! Que seja tudo natural e espontâneo!


Noite de fondue em família

Não podemos desperdiçar uma noite bela e agradável para namorar, nem que seja com a família toda! Aproveitar o luar e a luz das estrelas, aconchegados um ao outro, enquanto se deliciam com fondue, é para lá de gostoso!

A presença dos filhos pode abrilhantar ainda mais o momento, mostrando o quanto são felizes e tem inúmeros motivos para agradecer e estarem juntos. E, como a “noite é uma criança”, quando os pequenos adormecerem, o casal pode continuar desfrutando, com mais privacidade e cumplicidade!


Jantar romântico em casa, com casais de amigos

Jantar caseiro com outros casais de amigos também é muito bom! Acertem em qual casa vai acontecer e o que cada casal deverá levar (combinem também quanto às arrumações).

“Rachar” uma babá é uma ótima opção, quando os pais não têm com quem deixar os filhos. Assim, enquanto os adultos se divertem na sala, por exemplo, as crianças estarão bem e seguras, em outro ambiente.

Aí, é desfrutar a boa companhia dos amigos e, principalmente, do cônjuge! Vale também música de fundo, danças, carinhos, beijinhos. A regra é não falar assuntos desagradáveis e não deixar o seu amor de lado!


Cinema em casa, a dois

Quem não gosta de um aconchego com a pessoa amada? Ficar abraçadinhos no sofá, assistindo a um bom filme? É simples, fácil e muito agradável! Vale até escolher dois filmes, para o gosto de cada um.

Se as crianças derem sinal que vão demorar para dormir, a noite pode começar com um filme infantil, voltado para elas. Quando estiverem adormecidas e acomodadas, em seus quartos, a sessão dos papais apaixonados pode começar!

Vale rodada de pipoca, vinho, suco... e muitas expressões de carinho e amor! Ah! Escolha o filme com cuidado, para não correr o risco de cochilar, no meio dele!


Jantar fora, com os filhos

Sim! Jantar fora com a família completa também pode ser bem romântico! A escolha do local é algo muito importante! Deve ser bom para adultos e crianças para, assim, beneficiar o namoro!

Um lugar com “espaço kids” para a meninada seria o ideal. Assim, enquanto os filhos se divertem, de forma segura e controlada, os pais podem conversar a sós e namorar um pouco. Então, é só aproveitar!


Piquenique/viagem curta, em família

Às vezes, só o fato de mudarmos de “cenário” e sairmos da rotina já aumenta o clima de romance, mesmo que as crianças estejam por perto. Como, por exemplo, passar o final de semana na praia, sítio, fazenda, serra. Ou quem sabe apenas passar o dia e/ou pernoitar em um lugar diferente (hotel, pousada, por exemplo)?!

Fazer um piquenique no fim da tarde, em frente ao mar, também é maravilhoso! Apreciar a natureza, com toda a sua beleza, ao lado de quem amamos, renova a alegria, o sentido de estarmos juntos em cada momento e, como consequência, o amor! Andem de mãos dadas, abraçados, admirem-se, declarem-se e namorem muito!

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Viram como é simples e totalmente ao nosso alcance?! Se tiverem mais dicas, não deixem de nos contar!

P.S.: Nada de estresse, se algo não sair conforme o planejado, especialmente em relação às crianças! Nem tudo acontece da forma que gostaríamos, mas nem por isso vai deixar de ser maravilhoso!

 Raquel Suppi

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Pedro, a alegria da minha vida!

Meu menino de 6 anos!
Meu Pedro completou seis anos de vida, recentemente. Seis anos sendo um presente precioso e incomparável, em nossa vida. Senti tantas coisas com a sua chegada, que nem consigo nominar. Mas, entre todas as emoções, arrisco-me a dizer que três se sobressaíram: amor, medo, alegria. Desde o início e até hoje, não há como falar sobre ele, sem sentir tudo isso junto.

Eu já era mãe, quando ele nasceu. Mas, sem dúvida, nasceu uma nova mãe, com ele. Eu já conhecia a força do amor materno. Mas experimentei a sua potência, novamente, como se fosse a primeira vez. Senti o coração alargar intensamente. Pareceu até ser um movimento físico, sentido no próprio peito, de tão real e nítido que foi. Um mistério de amor tão grande e tão perfeito, que só pode brotar do próprio Amor de Deus. Algo que precisa ser vivenciado, para ser compreendido.

Foi assim que entendi que o amor (de mãe) não conhece subtração ou divisão, apenas adição e multiplicação. Descobri que amamos cada filho de forma única e infinita, como se só existisse ele, no mundo inteiro (ainda que tenhamos dois, três, quatro... ou mais de dez!). Um entendimento que marcou para sempre a minha vida, e que está íntima e precisamente ligado à chegada do Pedrinho.

"Foi rápido e fácil demais amá-lo!"
Pensar no meu Pedro é sorrir sem perceber. Falar sobre ele, então, é uma delícia! E teria tanto para contar... Costumo dizer que ele é a nossa alegria, com o seu jeito agitado, sapeca e serelepe de ser, que tantas vezes nos deixa loucos! E, na mesma loucura, ele nos cativa e conquista loucamente! É um menininho autêntico, espontâneo e para lá de sensível e carinhoso, com uma capacidade incrível de nos levar aos extremos: da irritação ao mais profundo estado de derretimento de amor. Seja como for, sou completamente apaixonada por ele.

A vinda dele foi bem diferente da experiência vivida com o André. E foi ótimo ter sido assim, porque foi logo ficando muito claro para mim, desde o início, que cada filho é irrepetível, precioso e especial à sua própria maneira. Embora eu pensasse assim, ainda não tinha ideia do quanto reconhecer e aceitar essa verdade seria tão importante para a nova fase que a minha maternidade inaugurava: ser mãe de dois meninos tão semelhantes e tão distintos.


Ainda posso escutar o Felipe anunciando, emocionado: “Ele nasceu!”. Estava louca que o trouxessem para mim, para aqueles poucos segundos tão valiosos, do primeiro encontro. As lágrimas me impediram de vê-lo claramente, mas ainda lembro exatamente do que vi e senti. Foi rápido e fácil demais amá-lo! Se antes não dava para imaginar a minha vida sem ele, agora, o sentimento era muito mais forte e doído.

Quando, finalmente, fui levada da sala de recuperação para o quarto, tão feliz, apaixonada e ansiosa para tê-lo em meus braços e, então, amamentá-lo, admirá-lo... Uma surpresa assustadora: meu Pedrinho estava na UTI. A pediatra de plantão me deu a notícia com muita tranquilidade e cautela. Contou que haviam percebido uma leve dificuldade respiratória e que por isso ele foi colocado na incubadora, com um “capacete de oxigênio”, para não cansar. Falou que não se tratava de algo grave e que era, até certo ponto, “comum” em bebês que nascem de cesárea. Fez questão de enfatizar que ele não era um “bebê de UTI”, que ficaria lá por no máximo 24 horas. Explicou que ele seria avaliado a cada seis horas, para saber se já estava respirando mais confortavelmente e, assim, receber alta da UTI. E, como “consolo”, disse que eu poderia ser chamada para tentar amamentá-lo, ao longo dessa espera agoniante.

A pediatra foi realmente muito atenciosa e amável. Minha mãe também estava lá, ao meu lado, esforçando-se para sorrir, na tentativa de me deixar mais tranquila. Tudo isso foi muito importante para amenizar o impacto. Por mais “comum” que seja, era uma situação nova e assustadora para mim. Meu filhinho não podia estar comigo e isso me angustiava e provocava um medo doloroso. Uma sensação que carrego até hoje. Mesmo assim, reagi bem, na medida do possível. Mas foi difícil ver seis horas de espera se transformar em doze, dezoito...

Amor, alegria, medo, dor...
Comecei a ficar mais ansiosa porque sabia que o André (na época, com 3 anos) viria para o horário de visita, no fim da tarde. Como seria para ele, não encontrar o irmãozinho? Como explicar o que estava acontecendo? Felipe e uma tia tentaram convencê-lo a esperar o dia seguinte, mas ele se recusou, dizendo que a mãe e o irmão o estavam aguardando. De fato, isso ficou combinado há várias semanas. Como era a primeira vez que ficaríamos longe um do outro, tentei prepará-lo bem, para o momento. Escolhemos até a roupa que ele usaria: fantasia do Homem Aranha. E assim aconteceu!

Foi muito bom o André ter ido, pois a sua presença me distraiu e encheu de alegria! Logo que chegou, deu-me um abraço gostoso e ficou como se estivesse procurando por algo ou alguém. Então, contamos que a enfermeira havia levado o Pedrinho para trocar a fralda e fazer uns exames, e que podia demorar. Notamos a decepção no seu rostinho e, por isso, decidimos entregar o presente escolhido e guardado especialmente para o encontro dos irmãos: um skate. Ele adorou, pois era exatamente o que queria. Aos poucos, mais visitas foram chegando, e isso ajudou a mudar o foco do Dé, até a hora de ir para casa.

Cerca de doze horas depois do nosso primeiro encontro, fui chamada para amamentar o meu pequeno príncipe, pela primeira vez. Quanta emoção! Entrei na UTI Neonatal chorando muito, algo que não pude evitar. Não conseguia enxergar nada ao meu redor, enquanto caminhava. Fitava apenas a incubadora que a enfermeira havia apontado, logo que entramos. Quando vi o meu Pedrinho... nem sei explicar. Basta dizer que amor, alegria e medo viraram uma coisa só!

Que bebê mais lindo! Ele estava só de fraldinha, tão fofo, bochechudo... tão perfeitinho! Os olhinhos estavam abertos, com um olhar sereno. Movimentava os bracinhos e as perninhas sem parar (dentro da barriga, fazia igual!). Como desejei tirá-lo de lá! Trouxeram-me uma poltrona e me ajudaram a sentar. Retiraram o Pedrinho da incubadora e eu fiz que ia me levantar, queria ir ao seu encontro, mas a enfermeira me disse, sorrindo: “Calma mamãe, você está operada, ele vai até você!”. Que momento feliz quando, finalmente, pude tê-lo nos braços! A gente se reconheceu imediatamente. Uma conexão que ainda se mantém e só se fortalece.

Presente de inestimável valor!
Mesmo cansadinho, ele conseguiu mamar. Uma cena inesquecível, que guardo com precisão e gratidão! Enquanto ele mamava, pude cheirá-lo, fazer carinho e admirá-lo bem de perto. Peguei nas mãozinhas, nos pezinhos, em cada um dos dedinhos... fotografei mentalmente cada detalhe dele. Nesse momento, pensei na possibilidade de não poder levá-lo comigo para o quarto, e o coração apertou. Se tinha sido difícil ficar longe dele antes, imagina agora, que já sabia como era gostoso tê-lo em meu colo?! Foi quando olhei em volta, pela primeira vez, e percebi que tinha outros pais naquele lugar. Tantos bebezinhos prematuros, em situação grave, cheios de aparelhos em seus corpinhos tão pequenos. O Pedrinho era tão grande e parecia tão saudável, comparados a eles. Sentindo a dor daqueles pais, fiz uma oração por cada um que ali estava.

O pediatra, gentilmente, disse-me que o Pedrinho precisava permanecer na UTI, por mais algumas horas. Eu estava me preparando para isso, mas doeu escutar. Não disse uma palavra, ou ia chorar. Abençoei e dei um beijinho na cabecinha do meu filho, e ele foi colocado na incubadora. Que tristeza precisar deixá-lo. Sai chorando de lá, mas consolada por saber que era o melhor para ele, e que em breve estaríamos juntos. Ver a situação ao meu redor, com casos tão mais sérios, inibia a minha lamentação. Eu tinha mais era que agradecer.

Voltei para amamentá-lo na UTI, naquela mesma noite. Desta vez, o Felipe também entrou comigo e foi muito especial. Pedrinho mamou bastante. Sugava com tanta força, que deu para ver a linda covinha que ele tem na bochecha. Tão fofo! Até me enchi de esperança que lhe dessem alta. Mas, novamente, fui para o quarto de mãos vazias. Passamos a madrugada longe um do outro. Não fui mais chamada. De manhã cedo, minha mãe, que estava comigo, sugeriu que eu tomasse um banho e ficasse pronta, porque poderíamos ir para casa a qualquer momento.

Cena inesquecível: filhos se conhecendo!
Enquanto eu me ajeitava no banheiro, lembrei que o Pedrinho já havia passado 24 horas na UTI, tempo máximo que a pediatra disse que ele ficaria. Cheguei a pensar: “Será que eu vou receber alta e ele não?”. Imaginar a possibilidade de ir para casa sozinha, era terrível! Eu não sabia que, naquele exato instante, meu pequeno também estava se arrumando, para vir ao meu encontro e irmos, juntinhos, para casa! Quando voltei para o quarto e, em seguida, minha mãe entrou com ele nos braços, foi uma festa! Mal podia acreditar que ele estava ali!

Dali adiante, aquele dia foi só alegria! Não demorou, e o André chegou, com o pai, para nos buscar. E, então, presenciei uma das cenas mais lindas, apaixonantes e marcantes da minha maternidade: ver os meus dois filhos juntos, pela primeira vez. Quando o Dé entrou, veio falar comigo cheio de sorriso, sem perceber que o Pedrinho estava ali, no colo da vovó. Logo que se deu conta, seu semblante se transformou, adquirindo um aspecto solene. Por sua vontade, ele se aproximou e foi como se, finalmente, tivesse compreendido o que era ter um irmão. Eu quase podia ver um amor os envolvendo e um elo indestrutível se formando, entre os dois. Aí, ele fez carinho, beijou a cabecinha, tudo de forma espontânea, e pediu para segurá-lo. Emoção demais para o meu coração! Naquela mesma noite, os irmãos dormiram juntos, no mesmo quarto, pela primeira vez. E começou, de fato, um novo tempo na nossa família, muito mais pleno!

Alegria da minha vida!
Tudo isso que descrevi, passa por minha cabeça, frequentemente. Eu me pego rindo sozinha, e também me emociono. Às vezes, a memória surge sem que eu me esforce. Outras, faço questão de relembrar, especialmente quando o Pedrinho está me tirando do sério, com as suas peraltices. Pensar em tudo o que passamos: os sofrimentos e inseguranças dos primeiros dias; as dificuldades e adaptações dos meses seguintes... enfim, geram em mim tanta gratidão por vê-lo, hoje em dia, tão cheio de saúde e energia, que fica mais fácil lidar com as situações desafiantes que surgem.

Como não amar perdidamente um menininho, tão lindo e sapeca, que tanto me ensina e incentiva a ser melhor? Como não ser eternamente grata pela vida de um garotinho que exala tanta alegria e espontaneidade, por onde passa? Como não temer, terrivelmente, cometer qualquer falha com ele, que é um verdadeiro presente, de valor inestimável para nós? Assim, Amor, alegria e medo (entre outras coisas mais) estão sempre de mãos dadas, na nossa relação. Sendo o Amor, infinitamente maior – sempre!

Raquel Suppi (mamãe)

domingo, 13 de maio de 2018

Dia das Mães: o batom gasto e a maternidade


"Te amo mamãe", foi a mensagem que encontrei no meu banheiro, logo que acordei. Sim, ela foi feita de batom. Sim, perdi o batom. Mas quem liga? Eu não! Recebi muito mais, em troca.

O batom a gente pode comprar, repor, substituir (ganhei outro, no mesmo dia). Mas não um gesto de amor e carinho tão sinceros. Não uma lembrança tão doce e espontânea, que jamais esquecerei. Diante disso, o batom em si já não tem a menor importância, apenas o que restou dele, no espelho.

E não é assim, a maternidade? O que são os sacrifícios, perdas, ofertas... quando estamos abrindo mão por algo muito maior, melhor e de valor incomparável?!

Quando sabemos focar o essencial, dar o verdadeiro sentido ao desafio e olhar além da dor, tudo vale a pena. Pois encontramos o amor, com tudo o que ele é, gera, traz... Há algo que valha e importe mais do que isso? Não.


No final, tudo compensa de tal forma, que conseguimos ressignificar e ser gratas pelos momentos difíceis, também. Porque, assim como o batom precisou ser gasto para deixar uma linda marca; o amor é provado e fortalecido através das dificuldades. E tudo isso só enobrece e engrandece a nossa missão (de mãe), todos os dias. 

Raquel Suppi

terça-feira, 8 de maio de 2018

Pela batida do seu coração


Como mãe, conheci o medo há 10 anos, no momento que soube que estava grávida do André. Jamais havia vivido a experiência de sentir tanta coisa adversa, ao mesmo tempo. Eu desejava ardentemente ler “positivo” no resultado do exame, e foi o que aconteceu. Mas não contava com o turbilhão de sentimentos, que invadiu o meu peito e me deixou sem ar.

Ninguém sabia da minha suspeita (de gravidez). Decidi, naquele dia 8 de maio de 2008, ir sozinha ao hospital, confirmar a minha desconfiança, e fazer uma surpresa para o Felipe – que estava chegando de viagem. No entanto, eu também fui surpreendida. Não esperava lidar com tantas emoções distintas: alegria, amor, insegurança, euforia, cautela, surpresa, medo... Uma mistura tão oscilante, que confundiu e inibiu a minha comemoração. Claro que eu festejei, mas de forma bastante comedida.

Essa reação não passou de uma autodefesa automática. Era como se eu não pudesse me permitir vibrar tanto, mesmo querendo, e muito menos me “apegar”. Eu me deixei dominar por um medo, desmedido, de perder e sofrer tudo, outra vez. Um pavor que eu desconhecia, até então. Eu conhecia, sim, a dor de perder um filho no ventre, algo que havia acontecido poucos meses antes. E foi a lembrança desse momento que me apavorou. “E se acontecer de novo?!”, eu pensava, inevitavelmente – algo insuportável, só de imaginar.

Sentir tudo isso me entristecia profundamente. Pois, embora eu estivesse imensamente feliz com a confirmação da gestação, o temor não me deixava curtir o momento, plenamente. Foi tão intenso, especial e cheio de emoção quanto a descoberta da primeira gravidez, mas vivido de forma bastante diferente, em muitos aspectos.

O meu primeiro “positivo” veio após 3 ou 4 meses de tentativas. Um tempo de espera sofrido, que pareceu uma eternidade, para quem achava que ia engravidar logo. Cheguei a pensar que era estéril. Como nunca havia tomado anticoncepcional e, principalmente, como usuária do Método de Ovulação Billings (um método científico e natural, que ajuda o casal a conhecer e reconhecer o ciclo da mulher), desde o início do casamento, eu realmente achava que ficaria grávida, sem dificuldade. Eu sabia quando estava fértil e perto de ovular, sabia das chances que tinha de engravidar. Por isso, cada vez que a menstruação descia ou que um exame de gravidez dava negativo, mais sem esperança eu ficava. Até que, na primeira semana do Advento, em dezembro de 2007, senti algo diferente, dentro de mim. Não se tratava dos sintomas da gestação, pois ainda era cedo e nem sequer estava com a regra atrasada. Mesmo sem razão aparente para suspeitar, algo me dava certeza de estar grávida.

Após alguns dias de muita ansiedade e silêncio (não comentei nem com o Felipe), resolvi ir ao hospital, fazer o exame. Meu marido não fazia ideia! Fui pela manhã e retornei à tarde, para pegar o resultado. Eu estava nervosa, rezava o tempo todo para ter forças e aceitar qualquer resultado. No caminho, ia fazendo um trato comigo mesma, de não comentar com ninguém, caso desse positivo, antes de dar a grande notícia para o papai. E já tentava planejar como contaria para ele.

Lembro-me, com clareza, do semblante da moça que me entregou o resultado. Enquanto imprimia o exame, ela me perguntou se eu queria que desse positivo ou negativo. Respondi com a voz trêmula, engolindo o choro: “positivo”. Ela deu uma espiada, antes de me passar o papel, e não consegui decifrar, pela sua reação, qual seria o resultado. Demorei um tempo para olhar a folha e encarar a verdade. Fui caminhando para fora do hospital, com as lágrimas escorrendo, ainda sem saber de nada. Finalmente, sem pensar, olhei! E lá estava, o que eu tanto havia desejado: “POSITIVO”!

Nossa! Quanta alegria e emoção! As lágrimas, que antes escorriam, agora jorravam. Eu ria e chorava. Chorava e rezava. Agradecia e chorava. E já nem me lembrava daquele acordo, de não contar para ninguém, antes do pai. Como não consegui falar com ele, tentei ligar para os meus pais, também sem sucesso. Acabei sendo “forçada” a esperar algumas horas, para contar para o Felipe.

Nós tínhamos uma palestra para ir, naquela noite. Íamos juntos, mas houve um imprevisto e nos encontramos somente lá. Como estávamos sempre cercados de pessoas, precisei me conter mais um pouco. Na verdade, o plano era contar só em casa, e fazer uma surpresa, quando fôssemos jantar.  Mas, não consegui me segurar e contei tudo, logo que tivemos alguma privacidade. Havíamos acabado de deixar o local do evento e, enquanto caminhávamos pela calçada, parei diante dele, emocionada, e disse: “Agora, nós somos três!”, mostrando-lhe o exame, como prova. Foi inesquecível e indescritível! Ele não sabia o que fazer, para onde ir, como comemorar. Uma cena que guardo com muito carinho. Por fim, decidimos ir para casa e ligar para os nossos pais e familiares, no Brasil (morávamos em Montevidéu, na época), para dar a grande notícia – que foi acolhida e recebida com muita festa e vibração.

Na primeira ultrassonografia, com 8 semanas de gestação, vimos o seu corpinho ganhando forma, e o coraçãozinho batendo forte. Nem podíamos imaginar que, na semana seguinte, nosso amado bebê partiria. Só descobrimos quase 20 dias depois, quando tive um pequeno sangramento. Perder um filho era algo tão surreal para mim que, quando o vi novamente na tela do ultrassom, mais formadinho e desenvolvido que antes, abri um grande sorriso, achando que estava tudo bem. Foi o Felipe que notou que havia algo de errado. “Posso escutar o coração do meu filho?”, ele perguntou ao médico, que respondeu, delicadamente: “Infelizmente, não há mais batimento cardíaco”. Não vou me deter no que sentimos, porque é indizível. Fiz a curetagem dias depois. O pior momento da minha vida, até agora.

Três meses depois, diante da descoberta de uma nova gravidez, naquele mesmo hospital, tudo isso passava como um filme acelerado, na minha cabeça. E eu temia, desesperadamente, reviver algo parecido, outra vez. Já nem sabia se devia contar para todo mundo, como havia feito antes. Então, meu marido me ligou, dizendo que havia chegado de viagem.

Quando nos encontramos, dei-lhe um forte abraço e contei que estava grávida, sem tom algum de surpresa. Saiu de forma espontânea. Ele até estranhou a minha aparente falta de euforia e deve ter compreendido o motivo, mas se recusou em compartilhar da mesma reação. Vibrou e se alegrou, como se fosse a primeira vez. E era! Porque cada filho é único. Aquela experiência era nova e única. Tínhamos que vivê-la e aproveitá-la! E foi ali, nos braços do meu esposo, que eu fui aprendendo a lidar com o medo, e que eu me permiti celebrar a vida do nosso filho, como o meu coração ansiava, desde o início. Não esperamos, nem guardamos segredo. Resolvemos anunciar a gravidez imediatamente, sentindo, celebrando e demonstrando toda a alegria que tínhamos direito e éramos capazes.

Se eu dissesse que vivi uma gravidez tranquila, estaria mentindo. Ela teve emoção, do início ao fim. O medo insistiu em ficar, mas não conseguiu sufocar a alegria, o amor e a esperança. Embora, devo confessar, quase tenha conseguido me dominar, um dia. Quando um familiar sangramento me assustou, e tudo parecia estar se repetindo, exatamente igual. Mas, no final, soou um lindo som nos nossos ouvidos: a batida forte de um coração.

Por essa batida, suportei todo o repouso e desconforto da gestação. Por causa dessa batida, temo, rezo e dou o meu melhor, a cada instante. É essa batida que me faz acolher e aceitar todos os sacrifícios e exigências da maternidade. É ela que me dá a honra de viver os melhores momentos da minha vida, e de escutar uma das palavras mais belas do mundo: mamãe! Enfim, por essa batida, vale a pena sentir e enfrentar todo o medo.


Raquel Suppi

domingo, 22 de abril de 2018

Pequenos detalhes, grandes riquezas

Mais que um  flagra, um mimo cheio de beleza!
Por uma questão de logística, geralmente, é o meu marido quem leva e busca os filhos no colégio. Contudo, sempre que possível, faço essa função ou vamos os dois juntos. Recentemente, por exemplo, fui com o Felipe, sem que as crianças soubessem. Eu queria surpreendê-las, ainda que no fundo pensasse que a minha ida não fosse uma grande novidade. Estava enganada! Ao me avistarem, cada um do seu jeitinho, encarou a minha presença como uma adorável surpresa! Reações memoráveis, que me ensinam um monte, e aquecem o meu coração.



Encantar-se com os pequenos detalhes do dia a dia... Não é este, um dos grandes segredos da felicidade?! Sim, acredito (completamente) que sim! A vida é feita de momentos, sejam eles rotineiros ou não. E, na minha opinião, são justamente os acontecimentos diários – e até mesmo monótonos –, que escondem as verdadeiras riquezas. A diferença está na importância e no sentido que damos a eles. 

Família, o foco mais importante.
Imagina se tivéssemos sempre que depender de fatos extraordinários para encontrar graça na vida?! Seria triste. Mas, se não tomarmos cuidado, podemos nos tornar escravos da ideia de uma realização – tantas vezes ilusória – e acreditar que só seremos felizes quando – e se – ela se concretizar. Esperar, acreditar, lutar por um sonho é maravilhoso. No entanto, fazer disso a condição da nossa felicidade, ignorando a alegria presente e real, que está bem diante de nós, é muita insensatez.





O fascinante pode ser facilmente encontrado nas cenas ordinárias, de cada dia. A questão é que nos acostumamos (no sentido entediante da palavra) com a rotina, e nos acomodamos de tal maneira, que deixamos de reconhecer e admirar a beleza que ela tem. Pura ingratidão, que nos impede de apreciar os pequenos espetáculos, a nossa volta. A verdade, é que o incrível e o grandioso pode surgir de algo, aparentemente, singelo e corriqueiro, quando sabemos lhe dar o devido valor.

Falando em realização... 
As crianças costumam ser mestras em transformar o simples e habitual em uma fantástica novidade. Como deveríamos aprender com elas! Quem tem o privilégio de tê-las por perto, não pode perder a oportunidade de observá-las, com atenção. O olhar delas transparece admiração e encanto. E é justamente essa mirada, cheia de deslumbre, que tantas vezes nos falta. É essa perspectiva que nos liberta do feitiço da cegueira e nos faz novamente capazes de contemplar os inumeráveis presentes que a vida nos dá.

Sou sortuda em poder dizer que tenho três “professores” sensacionais, ao meu lado. Eles me chamam de mãe, e são os melhores motivadores e instrutores que eu poderia ter. São eles quem mais me ajudam nas escolhas, quem mais orientam a minha conduta, quem mais definem as minhas prioridades, quem mais norteiam os meus passos e, sem dúvida alguma, os que mais me inspiram e estimulam no quesito: “como me tornar uma melhor pessoa, a cada dia”. Espero, de todo coração, jamais deixar escapar os seus valiosos e impagáveis ensinamentos.

Não importa quantos afazeres, preocupações ou problemas pesem sobre nós, nada deve tirar o nosso foco do essencial, que devolve a leveza que precisamos. Não podemos nos distrair e correr o risco de perder as lições mais importantes da vida. Por isso, sempre que me deparo com uma dessas ocasiões de ouro, fico mais convicta de que é impossível ser (realmente) feliz, sem elas.

Como naquele dia, por exemplo, que apareci no colégio sem avisar, com o propósito de surpreender os filhos, mas fui ainda mais surpreendida por eles. Começando pelo André (9), que me viu de longe, sorriu de orelha a orelha (o que me deixou derretida) e correu na minha direção, desviando-se dos colegas, para me dar um abraço caloroso!
Falando em alegria e encanto...

Depois, com a Clara (na época, com 3), que gritou “mamãe!” (com aquela doce animação), quando apareci na sua sala, apressando-se para pular em meus braços e mostrar o lindo desenho que havia acabado de fazer.

Já o Pedro (5), que estava para lá de entretido, brincando com os amigos, demorou para perceber a minha presença. Ao me ver, ficou tão surpreso, que parou de repente, levando um “encontrão” de um colega. Mesmo assim, abriu o seu típico sorriso, lindo e sapeca. Dos três, foi o único que não correu ao meu encontro. Preferiu caminhar, sem pressa, puxando a mochila. Mas compensou a “demora” com um abraço gostoso, que culminou com o melhor sussurro do mundo, ao pé do meu ouvido: “eu te amo, mãe”. 

Raquel Suppi

sábado, 17 de março de 2018

Ser mãe é (também): passar vergonha!

*Texto adaptado para o Riquezas do Lar, originalmente publicado no site Negócios de Família, em julho/2014*

É bastante corriqueiro, quase como uma regra, os filhos colocarem os pais em situações embaraçosas. Parece até que todos fazem um curso universal, do tipo: “como fazer os pais passarem vergonha”!

Quem nunca pareceu ter mentido? Dizemos: “ela não gosta de comer isso”, mas a filha não só come tudo, como pede mais. Quem nunca se constrangeu diante das respostas extremamente sinceras? Perguntam: “Gostou do presente?”. E o filho responde: “Não! Eu queria brinquedo, e não roupa!”. Quem nunca quis evaporar, diante de algum comentário totalmente sem noção dos filhos?

Não há como escapar! Viver momentos constrangedores, por causa das nossas crianças, é marca registrada de toda mãe – e pai também! É uma espécie de tradição da maternidade/paternidade, passada de geração em geração. Um dia, fizemos isso com os nossos pais, que fizeram com os nossos avós, que fizeram com os nossos bisavós e por aí vai!

Se todos passam ou já passaram por isso, bem que poderíamos encarar de uma maneira mais leve e descontraída. Claro que, na hora do aperreio, é complicado ver por essa ótica, levar numa boa e muito menos curtir. Se pudéssemos, enfiaríamos a cabeça em um buraco, como avestruz! Mas, depois, é quase impossível não virar piada e motivo de gargalhada. Histórias que serão contadas por anos, provavelmente, para as gerações seguintes!

Aqui em casa, temos um caderno cheio de casos assim. Procuramos anotar tudo. Vez ou outra, a gente lê e a risada é geral, os filhos adoram! Além disso, recontar um caso ou história, mesmo que em meio à descontração, pode ser uma boa oportunidade para educar, explicar e reforçar um ensinamento.

Um dos “clássicos” da família, com vários “capítulos” posteriores, envolveu o André, nosso filho mais velho. Na época, com três anos, ele começava a aprender (e a levar a sério) algumas “normas” das boas maneiras. Entre elas, a de não soltar “pum” perto de alguém. Ensinamos que sempre deveríamos tentar nos afastar das pessoas ou ir ao banheiro, em sinal de respeito.

Tudo começou, por conta de um episódio hilário, ocorrido numa noite de sexta-feira, em casa. Nós três (meu marido, André e eu) estávamos na sala, assistindo algum programa infantil, quando um mau cheiro invadiu o ambiente. Felipe e eu nos encaramos, cada um achando que o outro era o responsável por aquele fedor. Após negarmos a culpa, voltamos o olhar para o André, incrédulos de que ele seria capaz de “produzir” tal odor. Para a nossa surpresa, no entanto, nosso lindo menininho se acusou, entre risinhos gaiatos. Depois do “choque” e da crise de riso que tivemos, fizemos a devida correção.

Ficou claro que o nosso garotinho havia entendido a lição, poucos dias depois. Nós dois estávamos entretidos, fazendo uma atividade de arte, quando ele se levantou e correu em direção ao corredor, retornando em seguida. Voltou a fazer a mesma coisa, outras duas vezes. Curiosa e sem entender, perguntei o que estava fazendo, se estava tudo bem. “Eu só fui ‘peidá’ de longe, mamãe!”, respondeu, com a naturalidade e a inocência de criança, e já detido na nossa tarefa. Gargalhei por dentro e externei os devidos elogios, sentindo a tranquilidade que uma missão cumprida nos traz. Eu só não sabia que ela não estava, de fato, finalizada. Faltou ensinar um pequeno detalhe, que acabou nos rendendo um grande constrangimento, no final de semana seguinte.  

Estávamos em um restaurante razoavelmente cheio, e o André brincava no “parquinho” do local. Nossa mesa ficava próxima, de modo que dava para ficar de olho nele, enquanto jantávamos. Por isso, vimos exatamente quando ele saiu apressado, e correu para a direção oposta à nossa. Pensando que estivesse perdido, levantamo-nos rapidamente, para indicar onde estávamos. Foi quando ele parou, perto de umas mesas vazias, ergueu o polegar e soltou o berro, todo satisfeito: “Mamãe! Papai! Peidei de longe!”. Ops! Era o detalhe que faltava da lição: explicar que ninguém precisava saber. Falha nossa!


Apesar da confusão, a risada foi geral! Quanto a nós, não tivemos como escapar e muito menos disfarçar – fazer aquele ar de “eu não conheço esse menino”. Além dos garçons, Felipe e eu éramos os únicos de pé, olhando para onde o André estava. Ficou óbvio que ele era o nosso filho! Então, foi o jeito entrar na onda e soltar o riso, também – e não os gases!

Raquel Suppi

O que mais gosto na maternidade?

No meio daquela bagunça gostosa com os filhos, um deles me perguntou por que eu gostava tanto de ser mãe. - Porque eu tenho vocês, ué...

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